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“Tóquio Proibida” e a face oculta do Jornalismo

Resenha por Erick Avezani Monteiro


SINOPSE — “Tóquio Proibida”:

Quando se mudou para o Japão, aos dezenove anos, Jake Adelstein buscava tranquilidade em um templo budista. Seu destino foi outro: repórter inexperiente que mal dominava o idioma do país, acabou sendo o primeiro jornalista estrangeiro contratado por um grande jornal japonês. No caderno de polícia, ganhou acesso a um mundo desconhecido do Ocidente e até dos próprios japoneses. Em Tóquio proibida, Adelstein narra em ritmo de thriller os doze anos que passou no jornal, investigando casos de sequestro, pornografia infantil, extorsão e tráfico de órgãos. Por trás de tudo, paira a sombra da yakuza, a poderosa máfia japonesa.

“‘Bom’, eu disse, ‘me interesso por jornalismo investigativo e por um lado do Japão que conheço pouco. O lado sórdido. O submundo.’”

Essa é a principal ideia desenvolvida por Jake Adelstein em seu livro lançado pela Companhia das Letras no ano de 2011. Vendida em torno de R$50, a história de Tóquio Proibida — Uma viagem perigosa pelo submundo japonês, dividida em três partes e no formato de primeira pessoa, perpassa por 456 páginas de momentos que permeiam o jornalista Adelstein enquanto “mergulha” num obscuro oceano japonês e aprimora sua carreira “flertando” com o perigo.

“A máfia japonesa. Você pode chamar seus integrantes de yakuzas, mas muitos deles preferem o nome gokudo, que significa literalmente ‘o caminho final.’”

Yakuza é uma grande organização criminosa provinda do Japão. Seus membros fazem parte de subgrupos mafiosos e são conhecidos por jogarem pessoas pelas janelas, retalharem rostos, roubarem dinheiro, controlarem com suborno e muito mais. Toda essa brutalidade, em Tóquio Proibida, mira em Jake que, por ser jornalista, busca desvendar como um dos líderes gangsters conseguiu entrar nos Estados Unidos da América para passar por um transplante de fígado.

“Para ser sincero, eu não acreditava de verdade que pudesse ser contratado por um jornal japonês […]. Mas eu não me importava. Se tinha de estudar uma coisa, se tinha um objetivo, ainda que inalcançável, o tempo gasto correndo atrás dele deveria ter resultados indiretos. No pior dos casos, ia melhorar meu japonês.”

Curiosamente, Tóquio Proibida é mais do que um livro-reportagem de gênero investigativo. Esse é o grande diferencial que acrescenta conteúdo para a história. O enredo se aprofunda também na árdua vida profissional de Jake, que entrou na carreira jornalística por meios nada convencionais no Ocidente. Em vez da entrega de um mero currículo, na verdade, os almirantes a jornalistas no Japão passam por intensos testes redacionais e entrevistas na língua materna. Comicamente, o inimigo de Adelstein, além da falta de conhecimento do japonês, também foi o errôneo uso de seu próprio terno para o primeiro dia do processo seletivo que, na verdade, era um tradicional traje de luto!

Ou você apaga essa matéria ou apagamos você. E talvez sua família também. Eles primeiro, que é para você aprender a lição antes de morrer.”

Quando se lê, vê ou ouve alguma matéria de jornal, não é natural pensar sobre quais foram os meios da notícia para que ela chegasse até ali. No livro, os leitores desfrutam da oportunidade de darem os mesmos passos que um repórter que, por algumas vezes, não tem escolhas fáceis. Jake desce “degraus” do processo comum ao se comandar numa busca por informações rotineiras e segue uma trilha arriscada em prol de seu objetivo de desmascarar um “chefão” da yakuza, o que o faz passar por cenários intensos que não vemos explicitamente durante a luz do dia, como cenas de prostituições, mortes, corrupções e, claro, de ameaças e imprevistos constantes que vão mudando abruptamente o rumo de sua vida.

Na grande reportagem contada que é Tóquio Proibida, conhecemos como é o perfil de um real herói da Comunicação assim que ele sai às ruas: alguém que é forte para aguentar e resolver as dificuldades que aparecem ao se envolver em assuntos delicados e ser uma pessoa determinada a cumprir seu objetivo da forma mais responsável possível, interessada em fazer o melhor para a sociedade e com grande interesse na disrupção ao trazer uma informação inédita à tona.

Você irritou uma porção de gente futricando desse modo. Uma coisa eu vou lhe dizer: você é um repórter melhor do que eu pensava. Você é idiota, burro, teimoso e inconsequente, mas no final das contas acho que isso tudo é o que faz um bom jornalista.”

“Nunca leia um livro pela capa”. Burladores dessa famosa frase podem se decepcionar ao adquirirem Tóquio Proibida — ou podem se surpreender com a riqueza de temáticas presentes em cada capítulo. Apesar de ser comercializado com uma capa ilustrativa e sinopse que focam em vendê-lo primordialmente como um baú de tesouros sobre negócios mafiosos, seu conteúdo cumpre não só o papel de entregar tal história obscura, mas o de trazer uma reflexão e ênfase sobre o papel do Jornalismo, que é o da democratização de informações com a defesa da liberdade de expressão e justiça, além de, conjuntamente, o livro ser uma biografia de parte da vida de Jake, deixando-o mais completo por conta da vivência, pensamentos e atitudes únicas do protagonista, num território hostil e delicado, já que ele é um forasteiro numa terra de ninguém — e de todos.