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Explicação do filme Mãe! — quem decide o que é ser uma? Análise completa

O filme Mãe! é cheio de metáforas e reflexões sobre a maternidade e o modo como, muitas vezes, ela é imposta. E mais, a trama explora por meio do terror psicológico o que há de mais profundo e cruel dentro da mente humana.

Portanto, se você curte assistir a produções que dão um nó na mente, nos deixam em choque, são recheadas de questões psicológicas bem desenvolvidas e têm críticas sociais importantes, com toda certeza, vai adorar saber mais sobre Mãe!

Então, confira essa análise super completa e, no fim, nos conte o que achou!

Índice

Resumo do filme Mãe!

“Mãe!” é um filme de terror psicológico dirigido por Darren Aronofsky, lançado em 2017.

A história revela um casal, identificado apenas como “Mãe” (Jennifer Lawrence) e “O Poeta” (Javier Bardem), que vivem em uma casa isolada no campo. Mãe é uma mulher dedicada à casa, enquanto O Poeta é um escritor em busca de inspiração.

Porém, a rotina tranquila do casal é interrompida com a chegada de um estranho, chamado “Homem” (Ed Harris), seguido de sua esposa, “Mulher” (Michelle Pfeiffer). A presença do casal perturba Mãe, mas O Poeta a convida a deixá-los ficar.

E, conforme o tempo passa, a casa começa a se encher de pessoas desconhecidas que invadem o espaço de Mãe e desrespeitam sua privacidade. A tensão aumenta à medida que a destruição e o caos se instalam na casa. Eventos bizarros e inexplicáveis ocorrem, e Mãe começa a questionar sua própria sanidade.

Onde assistir Mãe!

O filme Mãe! atualmente pode ser alugado em plataformas como Google Play Filmes e TV, Amazon Prime Video, Apple TV e Youtube.

Por ser um terror psicológico, não é recomendado para menores de 18 anos.

Aqui está o trailer do filme Mãe!:

A psicologia no filme Mãe! por meio do gênero terror psicológico

Mãe! é uma narrativa eufórica do começo ao fim, que conecta o telespectador com a obra ao investir na produção de sentimentos de agonia e desespero que a protagonista sofre. É desse jeito que criamos empatia com a Mãe, pois ninguém ao seu redor dá atenção a ela. Apenas quem assiste ao filme consegue inteiramente notá-la de verdade e sentir o que ela sente.

O terror psicológico envolve a criação de um ambiente perturbador e/ou a utilização de elementos que exploram a vulnerabilidade psicológica e emocional das pessoas. Isso faz com que quem assiste fique desconfortável, já que vê na tela os descontrolados aspectos sombrios da mente humana, todos à flor da pele e sendo exibidos cruamente — e cruelmente.

Inclusive, é interessante perceber que muitas características psicológicas humanas estão atreladas às personagens e suas ações. Enquanto as pessoas mundanas e carnais são explicitamente egoístas, individualistas e egocêntricas, a compaixão do Pai faz a casa lotar. Já a Mãe, é um tanto quanto introvertida e reservada.

Interpretações e significados de Mãe! Qual o sentido do filme?

Todas as teorias do filme Mãe!, por mais que partam de construções de elementos e perspectivas diferentes, ainda rondam o aspecto da maternidade e trazem críticas ao que é forçado às mulheres quando se tornam responsáveis por outra vida, e também tudo o que é tirado delas assim que recebem esse título.

poster filme mae! jennifer lawrence

Logo no pôster do filme, podemos ver uma dica inicial de um possível contexto sobre entregar o que há de mais valioso em você a outra pessoa. Isso porque, na imagem promocional, Mãe literalmente arranca seu coração, oferecendo-o sem hesitar.

A história em si demonstra um grande ar de mistérios a cada cena. É como se tivessem grandes significados por trás da obra. E, em Mãe!, eles realmente existem. E vamos revelar cada um a seguir.

Ah! E antes de entrarmos em aspectos mais profundos, aqui vai vai um lembrete: você pode escolher assistir ao filme primeiro e depois ler a análise para entender melhor, ou também pode se aprofundar no nosso texto antes de tudo, para já ver Mãe! prestando atenção nos detalhes.

A pressão do papel de mãe numa sociedade machista

A narrativa reforça constantemente o ato de cuidar. A protagonista tem um zelo enorme pela casa e por seu filho. Só que, numa visão de crítica social, entendemos que essa desenvoltura é ligada apenas a personagem com esse papel específico de mãe acolhedora.

Apesar dessa dedicação ser uma habilidade universal, ou seja, que todos podem aprender o que é cuidar independente do gênero, só a ela é imposta. E, ainda, de forma desvalorizada e desatenciosa.

Seja limpando a casa, cozinhando ou forçadamente recebendo convidados, é fato que a Mãe se desgasta cada vez mais ao manter a ordem sozinha, sem nenhum auxílio ou recompensa. Seus esforços são em vão.

mãe! jennifer lawrence tendo um filho grávida

Ela tenta cuidar de tudo até o extremo, e suas vontades e desejos não são escutados por ninguém. Aliás, em determinada parte do filme, sua privacidade é invadida até quando dá à luz ao seu menino. Nessa cena em específico, a multidão de invasores deseja ver e tocar na criança a todo custo.

Sendo que, de modo brutal, eles roubam e assassinam o bebê logo após seu nascimento. Mais uma vez, o que restava de seu aspecto maternal é desrespeitado.

E o que acontece no final? Qual a lógica do filme Mãe!?

A Mãe termina violada, cansada e desprezada. O rosto dela está exausto, suas roupas sujas e o corpo machucado. Resultado de todo o impacto da invalidação que ela sofreu em cada minuto de sua existência. Atingir esse limite faz com que o único jeito de chamar a atenção de seu marido seja queimando a casa com todos dentro. Ou seja, se machucando.

Além disso, suas últimas falas demonstram infelicidade e desgaste, como se ela não tivesse conseguido cumprir seu papel de cuidar de tudo, mesmo chegando no limite de suas forças. Durante todo o filme, a Mãe se vê forçada a aturar infinitos desconhecidos para satisfazer o amor desproporcional de seu marido, assumindo o papel de uma figura materna que deve dedicar tudo de si.

Você nunca me amou. Você só amava o quanto eu amava você. Eu te dei tudo e você jogou fora.

Mãe! (2017)

E aí, seu ciclo de angústia se repete sem fim, pois descobrimos que seu marido a ressuscita infinitas vezes, sempre que ela dá um ultimato e extingue o resto de sua essência, já cansada de viver em função de agradar os outros. A Mãe recebeu o propósito de dar amor a todos, mas não tinha ninguém para amá-la de volta.

Isso traz uma reflexão sobre a naturalização existente diante de toda a pressão social e abuso que as mães sofrem. É realmente normal que mulheres mães saibam realizar tantas coisas ao mesmo tempo, sejam sorridentes com todos e deem tudo de si sozinhas a todo tempo, sem que sejam valorizadas e gentis com quem enxergam no espelho?

Afinal, existe um desgaste imposto sobre a maternidade? Quem decide o que é ser mãe?

Saiba mais: a mulher cansada

jennifer lawrence no filme mãe! tocando na parede da casa

Representação da Mãe Natureza

No filme, existe a personificação da Mãe Natureza por meio da protagonista. E, nesse caso, seu marido é o Criador. Ela é apaixonada pelo lugar em que moram. É uma moradia pacífica, e a Mãe dedica seu tempo cuidando da manutenção de todo o espaço.

Ainda, é notável que a Casa em que eles moram está viva, e que esse lugar físico é nada mais do que a própria Mãe do filme, a humana. Mas, qual o sentido de existir essa relação? Casas são feitas para receber pessoas, e mães carregam uma imagem, construída socialmente, de amor e recepção incondicionais, independente do que venham a passar.

Entretanto, quando visitas indesejadas começam aparecer na Casa e a depredar tudo, a infraestrutura do local começa a mofar. E todo esse impacto reflete na Mãe, que adoece junto com a moradia. O que era um lugar cheio de pureza, começa a entrar em decadência assim que a humanidade aparece em cena.

A Mãe Natureza interpreta os inquilinos como estranhos que ameaçam o local. Ela não entende o porquê estão ali, bagunçando tudo. Os horrores das ações dos seres humanos só pioram o declínio da Casa, que começa a sangrar com tanta imoralidade.

jennifer lawrence mãe na porta da casa

Referência a conceitos religiosos

Mãe! é um filme marcado por referências ao cristianismo. Inclusive, ele pode ser entendido como uma história cronológica, que percorre alguns dos pontos principais da Bíblia. Entretanto, adaptada a uma narrativa moderna para nossa época, ficando mais atrativa a quem assiste.

Então, vamos imaginar as personagens principais como figuras bíblicas para entender melhor essa relação do filme com conceitos religiosos.

Na história, o Pai é Deus, o Poeta; e a Mãe é a Casa, e por fim, também o Paraíso. Ele tem um instintivo primitivo de criar qualquer coisa e fazer milagres. E a Mãe é sua invenção mais gloriosa, porém ele constantemente sente que falta algo nela.

A partir daí, notamos que as duas primeiras visitas que batem na porta, na verdade, são Adão e Eva: criações do Poeta. E é aí que os pecados aparecem para contaminar a casa. A primeira morte no filme retrata a briga entre Caim e Abel. A pia quebrando e afastando a multidão representa o dilúvio. O nascimento da criança retrata Jesus vindo ao mundo, e também o seu sacrifício pelas mãos do povo.

A maternidade e o cuidado com a saúde mental

Apesar de ser um filme frenético, Mãe! pode ser acolhedor para quem desempenha o mesmo papel materno da protagonista, pois, trazendo a reflexão ao mundo contemporâneo, mostra uma mãe cansada e sozinha, assim como acontece com muitas responsáveis por filhos.

Entender que mães também são pessoas como quaisquer outras, e que podem se sentir invalidadas e dependentes emocionalmente, é um jeito de iniciar um indispensável debate sobre a saúde mental delas. A maternidade pode sim ser bela e leve, mas é importante ter empatia e respeitar suas trajetórias e desafios.

Afinal, assim como a protagonista, quando não cuidamos do nosso interior, ficamos doentes. Então, se você é uma mãe exausta, cuide da sua saúde mental. Aprenda a apreciar sua própria existência e vontades individuais. Desafios maternos existem, mas há jeitos de passar por cada um. Marque uma conversa inicial conosco e não se sinta mais sozinha.

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