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“Aristóteles e Dante descobrem os segredos do Universo” junto aos leitores

Resenha por Erick Monteiro

SINOPSE — “Aristóteles e Dante descobrem os segredos do Universo”:

Em um verão tedioso, os jovens Aristóteles e Dante são unidos pelo acaso e, embora sejam completamente diferentes um do outro, iniciam uma amizade especial, do tipo que muda a vida das pessoas e dura para sempre. E é através dessa amizade que Ari e Dante vão descobrir mais sobre si mesmos — e sobre o tipo de pessoa que querem ser.

Dante sabe nadar. Ari não. Dante é articulado e confiante. Ari tem dificuldade com as palavras e duvida de si mesmo. Dante é apaixonado por poesia e arte. Ari se perde em pensamentos sobre seu irmão mais velho, que está na prisão.
Um garoto como Dante, com um jeito tão único de ver o mundo, deveria ser a última pessoa capaz de romper as barreiras que Ari construiu em volta de si. Mas quando os dois se conhecem, logo surge uma forte ligação. Eles compartilham livros, pensamentos, sonhos, risadas — e começam a redefinir seus próprios mundos. Assim, descobrem que o amor e a amizade talvez sejam a chave para desvendar os segredos do Universo.

“ — Um dia vou desvendar todos os segredos do Universo.” — Aristóteles

O livro de Benjamim Sáenz é contado por Aristóteles, no formato imersivo de primeira pessoa. A história é dividida em seis partes, com vários capítulos incrivelmente curtos por todo o seu decorrer. A narrativa flui no período escolar de 1987 enquanto acompanha o trajeto de Ari e seu novo amigo Dante, que estão entrando em novas fases da vida.

“Eu sempre tinha a sensação de não pertencer a lugar nenhum. Não pertencia sequer ao meu próprio corpo — especialmente ao meu próprio corpo. Eu estava me transformando em um desconhecido. A mudança doía, mas eu não sabia por quê. E minhas emoções não faziam sentido.” — Aristóteles

Publicado pela Seguinte, a história de quase 400 páginas tem o seu início no verão, estação do ano favorita de Aristóteles. Ari, como é apelidado, é um jovem de ascendência mexicana que, aos seus 15 anos, está com mais perguntas do que soluções para seus entendimentos particulares. Ele não entende seus sentimentos e muito menos o mundo ao seu redor.

“-Acho que você precisa enfrentá-los. Você deve sentá-los e pedir que eles lhe digam. Faça deles adultos.” –Dante.

Filho de uma mãe protetora que prefere deixar enterradas as lembranças obscuras de seu primogênito presidiário, e com um pai transformado e selado pelos efeitos da guerra na qual lutou, o menino recém-entrado na puberdade se vê preso numa realidade monótona e amargurada. Ari acha que os pais estão sendo imaturos e errando em não abrirem espaço para conversas sinceras e explicações esclarecedoras de dúvidas que se movimentam constantemente na mente do jovem. A falta de diálogos profundos é o que faz com que Aristóteles seja uma granada de sentimentos prestes a explodir.

A trama de Aristóteles é mais do que o incômodo pelo silêncio dos pais a respeito de coisas que ele gostaria de entender. Ele demonstra desconforto em assuntos delicados, como desgosto generalizado e se sente irreconhecível para com o próprio corpo.

“ — Meu nome é Dante — ele disse.

Seu nome me fez rir ainda mais.

- Desculpe — eu disse.

- Tudo bem. As pessoas costumam rir do meu nome.

- Não, não — acrescentei. É que o meu é Aristóteles.”

A vida de Aristóteles começa a mudar quando, durante as férias de verão, em uma de suas idas à piscina de um clube, um garoto extrovertido o interrompe oferecendo dicas de natação. Isso desperta em Ari — que nunca foi de muitos amigos por não se sentir adequado a se encaixar com outros — uma vontade de mudar os trilhos de seu destino e deixar com que uma gota do inusitado respingue em si.

E Ari acerta em cheio, já que, depois daquele dia ensolarado, nada mais seria o mesmo. Ele se sente disposto a descobrir os mistérios de Dante, que também tem seus próprios demônios para enfrentar.

“E eu tinha a sensação de ser real. Antes de Dante, estar com alguém era a coisa mais difícil do mundo para mim. Mas, com ele, conversar e viver e sentir pareciam coisas perfeitamente naturais. No meu mundo não eram.” — Aristóteles

E então uma amizade orgânica e tão diferenciada se inicia. Os dois, logo nas primeiras páginas, se firmam como sendo as âncoras um do outro. Os garotos começam compartilhando livros poéticos e comportamentos rotineiros, como Dante exibindo sua peculiaridade em odiar tênis, e rapidamente acabam se cativando intensamente. A intensidade da amizade de Ari, com seu humor forte e ácido, e Dante, intelectual mas também com um jeito descontraído, traz acasos em primeira mão para a vida dos adolescentes. Entre risadas sinceras, pesadelos perturbadores, tragédias impactantes, questionamentos aleatórios e novas experiências — contando com algumas cervejas na caminhonete pelo deserto — cada vez mais inquietantes, os dois tem a chance de se sentirem alguém no mundo e também capazes de solucionarem qualquer problema que apareça para os atormentarem.

“Talvez vivamos entre nos machucar e curar.” –Aristóteles

O livro trata de assuntos importantes e tenta manter uma leveza até mesmo em seus momentos mais tensos, prendendo a atenção do leitor enquanto o fascina com acontecimentos chocantes e inusitados ao longo do desenvolvimento. Aristóteles e Dante descobrem os Segredos do Universo é um livro simples e profundo na mesma intensidade, desvendando o autoconhecimento, a descoberta da sexualidade e suas consequências, a superproteção parental, o amor e o principal, a amizade. Ari e Dante demonstram o poder da ligação entre duas pessoas de uma maneira natural, como deve ser. O autor brinca com o inesperado e interliga premissas imprevistas ao mesmo tempo em que constrói outras tramas no decorrer.

Aristóteles e Dante descobrem os Segredos do Universo é sobre as vivências da exploração do começo do percurso da adolescência e como se permitir aceitar novos horizontes e superar dores antigas pode ser um processo exaustivo, mas não impossível. É um livro que facilmente pode ser considerado especial para quem lê, já que Benjamin faz com que sua produção seja mais do que um objeto com palavras que formam uma narrativa, é também um espelho ao leitor, já que Ari e Dante exalam muito das situações de inconstância e vulnerabilidade que cada ser humano vive — ou já viveu — nesta idade. Também é ironicamente sobre como dois garotos adolescentes podem ser mais maduros do que adultos em alguns assuntos e ao mesmo tempo tão inocentes quando os ânimos estão a flor da pele enquanto desbravam o desconhecido ao seu redor.